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Como planejar embarques aéreos em meio à pandemia do Covid-19

Em meio ao Caos que o mundo se encontra hoje, as pessoas se dividem entre o medo do Coronavirus e o medo da recessão econômica que virá após o controle da pandemia, ou tudo junto e misturado, né, vai saber…

Mas acredito que precisamos nos adaptar e continuar produzindo, cada um na sua casa, na medida do possível, pois somente dessa forma iremos evitar que o mundo feche para balanço, como mostra a capa da revista The Economist do último final de semana.

Para evitar que realmente o mundo feche para balanço, como a capa da The Economist do último fim de semana mostra.

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E para que as empresas continuem operando, a logística não pode morrer.

Tarifas nas alturas, falta de espaço para embarque, omissão de navios, restrições para cruze de fronteiras e falta de operadores em terminais e armazéns são só alguns dos problemas enfrentados hoje.

E como podemos planejar os embarques aéreos em meio ao caos?

aeroporto de Dublin completamente vazio

Os passageiros já sumiram dos aeroportos …

O cenário atual, com muitos países fechando suas fronteiras e o próprio medo das pessoas em contrair a doença, mostra que ninguém está viajando para fazer turismo. Restam somente viajantes à trabalho de alguns segmentos muito específicos e/ou emergenciais.

Na falta de demanda, a maioria dos voos de passageiros (PAX) já foram cancelados ou suspensos ou serão nas próximas semanas.

Sejam voos domésticos ou voos internacionais.

E, claro, mesmo os voos domésticos atrapalham a logística internacional de cargas, pois eles precisam “alimentar” os aeroportos “hubs” das companhias aéreas de onde saem os voos internacionais.

Cito como exemplo a Delta: que tem voos para o Brasil a partir de Atlanta, sendo que se a sua carga não tiver mais um voo doméstico para chegar em Atlanta, como ela vai embarcar para o Brasil?

Ainda temos a opção de transporto rodoviário, mas …..

As limitações impostas pelos governos tem atrapalhado muito o transporte rodoviário.

Falta estrutura para os motoristas, diversos locais tem se fechado para a passagem de veículos de outra cidade.

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Principalmente na Europa, fronteiras estão fechadas, atrapalhando a alimentação de hubs aéreos via transporte rodoviário.

Fora os terminais de armazenagem, transbordo, separação e manuseio de cargas que tem trabalhado com menos funcionários do que o normal, quando não acabam sendo fechados devido a medidas de segurança sanitária contra a Covid-19.

E quais são as opções para embarque de carga aérea?

De modo geral, temos três opções para embarques de cargas aéreas e vou analisa-las sob a ótica dos três pilares para o planejamento da logística internacional que ensino em meus cursos:

1. Voos de passageiros (PAX)

Custo: Com a diminuição da quantidade de voos, as companhias aéreas ainda permanecem com um enorme overhead de custos a serem pagos, então os valores tem aumentado a cada dia. Não há uma previsibilidade total do custo, pois até o momento do embarque real, a tarifa pode ser alterada pelas companhias aéreas. A TAP por exemplo, saiu de 90 voos internacionais diários saindo de Lisboa para 15 mundialmente. A maioria das companhias só tem aceitado bookings já com tarifas priority.

Tempo: Os voos de passageiros ainda podem ser uma alternativa para entregar a carga antes da disponibilidade de espaço em um voo cargueiro, devido à sobrecarga desta segunda alternativa. Porém, há de se observar muito bem a logística completa, se alguma conexão ou transporte terrestre não vá sofrer restrições até a data prevista de embarque.

Riscos: Vivemos em tempos muito incertos então sempre há a chance de overbooking do voo, o que irá obrigar a companhia a analisar onde a sua carga está na prioridade de embarque. A hierarquia é:

1.      Bagagem

2.      Cargas preferenciais como remédios, perecíveis e itens médicos

3.      Cargas em tarifas priority

4.      Cargas em tarifas standard

Mas o risco maior ainda é a carga não ser embarcada e todos os voos da respectiva companhia serem cancelados.

2. Voos cargueiros (CAO)

Custo: Geralmente o custo é maior do que os embarques de voos passageiros e as tarifas atualmente estão bem altas, mas a previsibilidade no custo é maior. Porém, vivemos tempos muito incertos e este cenário pode mudar. Muitas companhias aéreas, como a Lufthansa, já estão utilizando aviões de passageiros para fazer voos cargueiros, afim de aumentar a oferta de espaço e aproveitar sua estrutura.

Tempo: Os voos cargueiros não deverão ser cancelados e devem manter a mesma frequência de embarques programados. A dificuldade está em conseguir e manter o espaço reservado.

Riscos: Nem todo país tem uma rota direta de embarques cargueiros ao Brasil, então poderá depender de um outro voo ou transporte rodoviário. Portanto, cheque tudo antes, mesmo que já tenha reservas e esteja tudo programado. Nos casos de overbooking, a mesma hierarquia de prioridade de embarques se aplica, só não teremos a bagagem.

3. Voos afretados (charter ou part-charter)

Custo: Geralmente representam a opção mais cara de embarque aéreo. Digo geralmente, pois se você tiver com um volume alto de carga, poderemos ter um afretamento competitivo no cenário atual. Muitas opções vem aparecendo no mercado para suprir a carência de voos regulares, então é bom manter um olho atento nesta alternativa.

Tempo: Geralmente são voos diretos e garantidos, dado o afretamento. A questão é organizar a data de saída da aeronave para atender todos os embarcadores no caso de um part-charter. No afretamento total, a data é em comum acordo com a companhia aérea.

Riscos: Com a aeronave já afretada, a data de embarque é definida, então a carga precisa estar disponível no aeroporto, já liberada para exportação, do contrário há o risco da aeronave partir e incidir frete morto. Com todas as restrições atuais, é recomendado planejar a chegada da carga no aeroporto dias antes da saída da aeronave.

E eu consigo liberar a carga na alfândega depois da chegada?

Sim! Os serviços aduaneiros e o transporte e entrega de cargas em geral são serviços essenciais, como definido no Decreto Presidencial 10.282 de 20 de Março de 2020, e não irão parar.

Muitas adaptações já foram feitas, mesmo que temporariamente, na legislação para facilitar a liberação e entrega de cargas importadas e para o resguardo da saúde e diminuição do contágio. A maioria das ações aduaneiras envolvem a flexibilização quanto a necessidade de entrega de documentos originais e assinatura eletrônica.

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Comunicado da ICTSI Rio Brasil, sobre como será o procedimento para liberação de cargas sem a apresentação do BL original.

E ainda os itens que são essenciais para o combate à Covid-19 terão armazenamento e desembaraço prioritário, além de poderem ser liberadas para entrega e uso antes de conferência aduaneira no caso de canais de parametrização diferente do verde, isso tudo já aprovado via retificação na IN SRF 680 de 2006.

Minhas Dicas

Bom, apesar de todo o caos, muitas empresas ainda estão embarcando e tentando produzir nesta crise, então finalizo com algumas dicas:

1.      Sempre comece o planejamento se perguntando: “o que acontece se esta carga não chegar no dia X aqui no destino?”

2.      Se é urgente, embarca do jeito que dá. Seja cargueiro, pax ou charter, mas checa as possíveis restrições na opção que você pretende usar

3.      Cargueiros estão com custos mais previsíveis do que embarques PAX

4.      Fique atento à novas rotas de cargueiros, companhias estão começando a usar aeronaves de passageiros para transporte exclusivo de cargas

5.      Também fique ligado à oportunidades de embarques em aeronaves fretadas

6.      Quanto mais conexões na rota, maior o risco

E você, como está gerindo as suas operações durante essa crise? Comente aí sobre seus casos e se precisar de alguma ajuda, me manda uma mensagem.

 

Simboooraaaa vencer essa crise!